Ensino remoto: consequências e reflexões

Aperfeiçoamento no uso da tecnologia e na capacidade de compartilhar conhecimentos
por João Miguel Ayres Melillo
10/09/21

Os desafios trazidos pela pandemia fizeram com que professores e gestores precisassem buscar novas formas para abordar os conteúdos dos componentes curriculares no novo modelo de ensino. Agora, à medida que a vacinação no País avança e uma melhora dos índices da pandemia é observada em vários estados, as escolas vêm se movimentando para organizar a retomada das atividades presenciais.

Em meio a esse cenário, muito tem se discutido sobre a real implicação do distanciamento na consolidação das habilidades. Porém, pouco tem se debatido sobre as contribuições do ensino à distância e quais avanços serão de fato aproveitados daqui em diante.

Neste artigo, nosso consultor, João Miguel Ayres Melillo, aborda os impactos positivos diretos ou indiretos que irão auxiliar na introdução de aspectos importantes da chamada Educação 4.0. Uma abordagem de interesse de toda a comunidade escolar. Confira a íntegra.

Não é novidade que a pandemia trouxe diversos desafios e fez com que professores e gestores precisassem buscar novas maneiras tanto de abordar os conteúdos dos componentes curriculares tradicionais, quanto de manter um contato saudável e produtivo com os estudantes e famílias.

No entanto, em virtude do avanço da vacinação e melhora dos índices da pandemia observada em várias regiões, as escolas vêm se movimentando para organizar a retomada das atividades presenciais, considerada pela grande maioria dos especialistas como fundamental para a efetividade do processo de ensino e aprendizagem, especialmente na educação básica. A ideia geral é que esse retorno aconteça de forma gradativa, com o modelo híbrido de ensino prevalecendo em um primeiro momento.

Em meio a esse cenário, são várias as discussões sobre o real impacto do distanciamento dos últimos meses na consolidação das habilidades e qual será o tempo necessário para que esse período seja, de alguma forma, compensado. É consenso também que isso vai variar dependendo da realidade de cada instituição e das possibilidades de contato que os professores tiveram com os estudantes (em alguns casos, a ausência de uma boa conexão com a internet foi um dos fatores que limitou bastante a atuação dos profissionais da escola).

Porém, pouco está sendo falado sobre as contribuições do ensino à distância e quais avanços serão de fato aproveitados daqui em diante. É fundamental que tenhamos em mente que tudo que foi construído em virtude do esforço e flexibilização de diretores, supervisores, inspetores e professores não pode (e nem deve) ser perdido.

Como consultor da FDG, acompanhei a experiência em 1.009 escolas da rede pública estadual de Minas Gerais nos últimos dois anos e pude constatar ao menos três impactos positivos diretos ou indiretos cujas consequências já começaram ser observadas e que vão auxiliar na introdução de aspectos importantes da chamada Educação 4.0, que já é tendência em países mais desenvolvidos, no nosso modelo de ensino.

O primeiro deles é o uso da tecnologia. Por meio de ferramentas lúdicas e interativas, foi possível, em muitos casos, ensinar de uma forma divertida e que fez com que os estudantes se sentissem mais estimulados. Jogos e aplicativos vão fazer cada vez mais parte da rotina em sala de aula uma vez que a vantagem da técnica de gamificação vem sendo comprovada na prática. Além disso, a possibilidade de fazer encontros online é algo que, se bem utilizada, facilita a interação e pode aumentar a participação nas reuniões, bem como melhorar a sua eficiência.

Em segundo lugar, a capacidade de compartilhar conhecimentos. Tarefas precisaram ser distribuídas e isso tornou possível identificar dentro da equipe a pessoa adequada para fazer um determinado tipo de trabalho (seja de edição de vídeo, preparação de um material chamativo para a comunidade escolar ou mesmo para auxiliar os colegas na utilização de determinada ferramenta tecnológica). A união foi necessária e muitos são os relatos de troca de experiências dentro de uma mesma escola, até mesmo com envolvimento das famílias ou entre instituições.

Por último, a que eu talvez considere a mais importante: o crescimento profissional. Gestores e educadores envolvidos com a escola e comprometidos com a qualidade do ensino demonstraram uma enorme habilidade de adaptação. Chamou a atenção a força de vontade e a superação para lidar com os mais diferentes desafios. Quem poderia imaginar que as demandas de um modelo de ensino totalmente diferente do convencional seriam entendidas tão rapidamente? Esses atributos que se mostraram mais do que essenciais no início de 2020 continuarão com papel de relevância em um cenário no qual a Educação fará cada vez mais parte do debate público.

Por mais difíceis que tenham sido os últimos meses, muito do que foi vivenciado seguirá sendo aproveitado pelas escolas e, tanto no médio, quanto no longo prazo, isso tende a contribuir para a minimização do impacto causado pela pandemia e o período de ausências dos estudantes da escola. Certamente, ainda há muito a ser feito, mas há um caminho sendo seguido.

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