Artigo publicado na Revista Viver Brasil
Ed. 255 – Abril 22
Na última edição, The Economist destacou que nenhum outro país viu sua indústria perder tanta participação no PIB quanto o Brasil. A queda foi de 2%/ano, em 40 anos. A reportagem aponta como principal razão o protecionismo à nossa indústria frente à competição estrangeira, que acabou gerando o isolamento em relação às cadeias produtivas globais. Na prática, o que houve foi uma sucessão de governos que deram a condição protecionista à nossa indústria, focando somente no atendimento à demanda interna e deixando gradualmente de lado a produtividade como fator chave para competir globalmente.
Os números são contundentes: entre 1980 e 2017, a incorporação de valor aos produtos industriais brasileiros cresceu somente 24% em termos reais, comparado com 69% na Argentina e 204% no mundo como um todo. Isso explica termos perdido recentemente para o país vizinho uma relevante indústria automobilística.
É claro que contribuem para isso os entraves do custo Brasil, que é composto de alta carga tributária, sistema tributário complicado, logística deficiente, custo elevado da energia, burocracia e corrupção. São as famosas bolas de ferro amarradas aos pés dos empreendedores brasileiros. No entanto, o custo Brasil não é o único culpado. É necessário ressaltar o fato de que muitas indústrias estão negligenciando e até mesmo abrindo mão de sistemas robustos para garantir a melhoria contínua de produtividade, principalmente no que se refere aos seus processos.
É notório que os modismos sempre encontraram no Brasil grande aceitação. É uma febre! São propaladas atualmente as inovações disruptivas e as mudanças exponenciais. É excelente pensar nessas formas de mudanças, mas é extremamente importante manter em funcionamento sistemas robustos que possam garantir melhorias contínuas (kaizen) e melhorias radicais (kaikaku). São os sustentáculos para uma cultura avançada de gestão para sustentar inovações. No entanto, vemos hoje que indústrias brasileiras benchmarks em produtividade são cada vez mais raras.
O surpreendente é que o conhecimento necessário para melhorar a produtividade é amplamente disponível no País, desde a década de 90, e muitas instituições o detêm. O que, então, as diversas instituições (consultorias e escolas) estão ensinando a ponto de produzir resultados tão indesejáveis? A difusão de conceitos e assistência a empresas em aumento de produtividade são mais trabalhosos e exigentes. Por isso, concentram-se em assuntos mais singelos. Devemos reagir e não aceitar com resignação o fato de estarmos ficando defasados das cadeias produtivas globais. A hora é agora, não há tempo a perder!