No dia 6 de outubro de 2025, durante a abertura oficial do Festival de Educação Liga da Gide, o Professor José Martins de Godoy, um dos instituidores da Fundação da Gide e atual Presidente do Conselho Curador, realizou um pronunciamento marcante sobre a trajetória da instituição, o legado da metodologia Gide e a importância da gestão educacional para o avanço da aprendizagem no Brasil. A seguir, publicamos a íntegra de seu discurso, um verdadeiro chamado à transformação do país por meio da educação.
Cumprimento o Secretário de Estado de Educação de Minas Gerais, senhor Rossieli Soares, hoje também representando o Governador Romeu Zema, que, junto à FdG, recepciona os educadores de todo o Brasil nesta ocasião especial. Enalteço também a figura do Vice-Governador Mateus Simões, que foi o grande responsável pela participação efetiva do Governo de Minas neste evento. Agradeço ao senhor Nadim Donato, Presidente da Fecomércio MG, pelo patrocínio ao festival. Nosso reconhecimento ao Governo de Minas Gerais pela oportunidade de trabalharmos em 900 escolas da Rede Estadual, à Anglo American pela importante parceria apoiando o nosso trabalho em municípios em que a empresa atua, e aos municípios mineiros que estamos assistindo.
Sinto-me extremamente feliz e gratificado por ver esta sala com tantas pessoas comprometidas com a Educação. O cerimonial já destacou a presença das autoridades e dirigentes. Meus agradecimentos pelo prestígio da presença, desejando um evento muito profícuo. Da nossa parte, este festival é um grande esforço para escalar a gestão para a melhoria da educação básica no país, que se traduz na melhoria do ensino-aprendizagem.
Começamos a planejar este evento há cerca de um ano. Mais de 200 Secretarias de Educação de 10 estados atenderam ao nosso convite. E o mais gratificante: mais de 6 mil educadores de todo o país acessaram as nossas redes dizendo: “quero participar!”. É uma demonstração de que os professores, ao contrário do que muitos ditos “especialistas” alegam, desejam mudanças e são ávidos por melhorias.
Na década de 1980, pesquisamos internacionalmente, por meio de um programa financiado pelo Governo Federal e pelo Banco Mundial, e trouxemos para o Brasil o que havia de mais avançado em gestão para a melhoria dos resultados das organizações. Optamos pelo modelo japonês, por ser participativo e humanístico. Adaptamos os conceitos à realidade brasileira, produzimos farta literatura, objetiva e didática (tudo isso durante 12 anos ainda na UFMG) e os difundimos por meio do ensino e da assistência direta às organizações. Após o término da nossa missão na UFMG, instituímos o que hoje é a Fundação da Gide para a continuidade da nossa atuação. Fizemos uma revolução neste país! Muitas empresas se beneficiaram e se desenvolveram. Muitas delas são hoje multinacionais. Podemos dizer que o Brasil fala a linguagem da gestão graças a essa iniciativa pioneira. Há também muitas organizações e especialistas dedicados a difundir e aplicar os ensinamentos que ministramos.
Como professor devotado à causa da educação, procurei desde o início aplicar os conceitos na educação básica. Isso se deu em meados dos anos 1990, com relativo sucesso. Tivemos certa dificuldade em transpor os conceitos para a área educacional. A partir de 1998, a Professora Maria Helena Godoy teve o descortino de alinhar os conceitos, de forma que a gestão para a melhoria dos resultados educacionais falasse a língua da escola. Foi uma iniciativa muito bem-sucedida. Nesse período, Maria Helena estruturou o método que hoje denominamos GIDE (Gestão Integrada da Educação).
A partir de 2001, a Gide foi difundida em 12 estados, beneficiando 10 milhões de alunos, com mais de 1 milhão de professores capacitados e resultados muito significativos. Em estados em que permanecemos por mais tempo, os conceitos foram sedimentados e permanecem até hoje. Destaco os resultados obtidos no Ceará, no Rio de Janeiro e em parte da rede de Minas Gerais. Esses estados têm se destacado nas avaliações do Ideb. Nas palestras que se seguirão, vocês terão a oportunidade de conhecer melhores informações sobre resultados e benefícios proporcionados pela GIDE nos últimos anos.
Fala-se hoje, enfaticamente, sobre a necessidade de se ter um firme propósito para realizar algo relevante. Há muitos anos, já tínhamos esse propósito de contribuir para o desenvolvimento da educação no país. Hoje, reafirmo que temos o propósito redobrado, conduzindo as nossas atividades e iniciativas em clima de missão. Estamos firmemente comprometidos em envidar todos os esforços para escalar o nosso sistema gerencial para um maior número de escolas estaduais e municipais.
Cumpre salientar que temos hoje um sistema robusto, contemplando as soluções necessárias ao desenvolvimento de uma escola ou secretaria, para estruturação de seus processos e monitoramento de todas as atividades pertinentes. A Gide possui um indicador, o i-Gide, que possibilita realizar, de forma rápida e precisa, o diagnóstico de uma escola a fim de encontrar as causas que impedem os bons resultados. Sem um bom diagnóstico, não se chega a lugar algum. Podem ser encontradas muitas causas; todavia, felizmente, são poucas as causas importantes e muitas as triviais, segundo o Princípio de Pareto, que até hoje não foi desobedecido. Tem-se, então, o direcionamento preciso para atacar e bloquear as causas principais. Possuímos uma plataforma que realiza a coleta dos dados das variáveis pertinentes de uma escola para análise e tomada de ações corretivas. Isso se insere na máxima de que “quem não mede, não gerencia”, amplamente defendida pelo Prof. W. E. Deming.
É extremamente desejável que dirigentes entendam cada vez mais o que é gestão, a qual não serve para nada, a não ser para resolver problemas, alcançar metas e produzir resultados projetados. É comum encontrarmos, em escolas e mesmo secretarias, uma gama de iniciativas e projetos muitas vezes sem foco na atividade-fim, acarretando dispersão de esforços e recursos, sem efetividade na obtenção dos resultados desejados e sem mudar uma decimal nos resultados do ensino-aprendizagem. Muitas escolas são forçadas a conduzir determinados projetos impostos de cima para baixo, ou mesmo a buscar tais projetos.
Essa situação não é encontrada apenas em escolas. Quando levamos a mensagem a altos dirigentes estaduais e mesmo municipais, somos informados de que estão conduzindo muitos projetos e que não há espaço para mais um. Outra situação que encontramos é o dirigente dizer que já tentou implementar a gestão e que não deu resultado. É claro que não implementou corretamente: não fez um bom diagnóstico, não estabeleceu uma meta compatível com a capacidade de trabalho da organização, não encontrou as causas fundamentais, não fez um bom plano de ação e, sobretudo, não gerenciou de forma metódica e persistente, medindo resultados parciais e tomando ações corretivas. Fazem um plano malfeito e julgam que o resultado vem por mágica. Assim, não há como obter resultados, contrariando o método científico formulado em 1914 e largamente testado. Perguntem aos japoneses, aos coreanos do sul, aos finlandeses se o método funciona ou não.
É fundamental reconhecer que a gestão é capaz de harmonizar os esforços para alcançar melhorias. Seleciona as atividades realmente vitais para bater a meta estabelecida.
O projeto de gestão não é mais um projeto, como muitos o consideram. É O PROJETO, norteador de todas as atividades essenciais à obtenção dos resultados da atividade-fim. O resto é perfumaria.
O que estou afirmando é o óbvio, mas, como dizia Nelson Rodrigues, “só o gênio vê o óbvio”.
Uma assertiva inquestionável: em uma manhã, podemos tornar um dirigente capacitado nos conceitos da gestão, a fim de que aprenda a focar na atividade-fim e não disperse recursos materiais e humanos de forma improdutiva e frustrante. É preciso formar os dirigentes para que desempenhem, de fato, as tarefas que devem ser realizadas!
Na realidade, muitos dirigentes, em nível de escolas e mesmo de secretarias, preferem dedicar-se a atividades-meio, como consertos, melhorias das instalações físicas, administração do dia a dia, o famoso “apagar incêndios”. Não que isso não seja importante, mas o fundamental, a atividade-fim, é muitas vezes negligenciada.
Há mudanças no horizonte. Haja vista a presença de educadores comprometidos que se interessaram pelas mensagens e resultados que serão apresentados neste evento, não só os presentes, mas também o grande número dos que não puderam comparecer.
Por último, agradecendo novamente o prestígio da presença de todos, reafirmo nosso compromisso de continuar envidando os nossos melhores esforços pela causa da educação, com o propósito renovado de conquistar resultados expressivos do ensino-aprendizagem, que é a principal finalidade da educação. Sejamos todos parceiros nesta jornada.
Muito obrigado!